domingo, 6 de fevereiro de 2011

Convivendo com um paciente com câncer

DICAS PARA QUEM CONVIVE COM UM PACIENTE DE CÂNCER
(Adaptação do livro "Guide for Cancer Supporters" - Annette and Richard Bloch)

- Não tenha receio de usar a palavra câncer. O nome da doença é esse.

- Esteja sempre presente e disponível. Parta do princípio que você está com
  o paciente para ajudá-lo e apoiá-lo, não para ter pena dele.

- Seja um excelente ouvinte. Nas horas difíceis, respire fundo 3 vezes
  para manter a calma.

- Se o paciente comentar que ele está sendo um fardo para você, assegure-lhe
  que a sua ajuda é uma escolha de livre arbítrio.

- Trate o paciente como se ele fosse viver. Entretanto, não faça prognósticos
   afirmando: "Eu sei que você vai ficar bom." É impossível saber isso. Além do
   mais, o paciente "sente" o que está acontecendo. Prefira dizer algo tal como:
   "A situação é séria, mas você está fazendo todo o possível para enfrentar os
   desafios."

- Seja paciente ao dar informações. Nas hora do sufoco, nem sempre a
  pessoa consegue prestar atenção direito ao que está sendo dito e absorver
  todos os detalhes.

- Não insinue que o enfermo seja uma fortaleza ou se porte como se tudo
  estivesse bem. Admita que sua situação deve ser realmente difícil, cansativa,
  entediante e amedrontadora.

- Permita que a pessoa se desabafe, dando expressão às suas frustrações e raiva.
  Isso ajuda a alivar o estresse.

- Não se canse de demonstrar atenção, carinho e preocupação, verbalmente
  ou através de pequenos atos de bondade. Escreva uma carta, por exemplo,
  um bilhete ou uma mensagem inspiradora e dê para o paciente. Compartilhe
  com ele uma oração, um cartão bonito, um livro, uma flor ou qualquer outra
  coisa que sirva de meios tangíveis de expressar o bem-querer.

- Demonstre os seus sentimentos com o resto da família, inclusive os filhos.
  Permita que eles participem e ajudem no cuidar do paciente. Incentive o
  diálogo aberto e contínuo entre as pessoas envolvidas com o enfermo.

- Encorage o paciente a manter-se ativo física e mentalmente.

- Não se faça de engraçado o tempo todo; entretanto, não tenha receio de
  sorrir, de ver o lado cômico das coisas. Em certas horas, o humor pode
  aliviar o estresse.

- Encontre maneiras de fazer o paciente a se descontrair. Veja filmes de
  comédia juntos, compartilhe o recorte de uma piada ou uma estória
  animadora.

- Não fique contando e recontando as experiências horrorosas que outros
  pacientes tiveram ou estão tendo.

- Fale sobre os acontecimentos especiais do passado, relembrando seu momentos 
  mais felizes ou engraçados. Observe como e por que essas recordações se
  tornaram  significativas para o enfermo. Decore o seu quarto com fotos de
  quando era ainda bebê, criança ou adolescente.

- Jamais menospreze o valor de uma atitude positiva na luta contra a
  enfermidade.
  
- Lembre-se que a higiene pessoal do paciente é de super importância. Atente
  para o seu asseio e boa aparência. Ajude-o a manter sempre as mãos bem
  limpas e o hálito fresco. Recomende o uso de um chapéu para proteger-se do
  sol ou algum accessório ou maquiagem para melhorar o seu visual. Esses tipos 
  de detalhes geralmente promovem a auto-estima.

- Tenha muito cuidado com terapias alternativas ao tratamento convencional
  da doença. Procure ler a respeito, conversar diretamente com outros pacientes   
  que tenham usado tais métodos. Permita que o paciente consulte a sua intuição
  antes de tomar quaisquer decisões.

- Não desencorage o doente de se ocupar, procurando perservar  o máximo 
  da sua rotina. Evite ser "bonzinho" demais, agindo como se o enfermo
  fosse uma criancinha. (Claro que isso não se aplica, se for o caso.) De
  qualquer forma, não cometa atos análogos a dar bala para uma criança
  obesa e diabética. Isso pode ser o que ele quer, mas ao longo prazo é um
  contra-senso fazer as suas vontades.

- Estimule o paciente a cuidar de si mesmo. Às vezes, o próprio doente deseja
  manter a sua independência, mas os parentes insistem em atrapalhar, dizendo:
  "Você está doente, não deve se esforçar, tentando fazer isso ou aquilo."
  O paciente terá mais confiança, se incentivado a manter-se ativo. Para ele,
  soa muito melhor ouvir: "Ótimo, fulano,  que você continua se esforçando para
  preservar a sua independência e amor-próprio."

- Faça comentários encorajadores sobre o progresso do paciente. Observe sinais
  de melhora e demonstre satisfação e orgulho. Todo paciente gosta de ouvir que
  é amado e aceito, não obstante as mudanças no seu aspecto físico.

- Atenção - o câncer não é contagioso. Abrace, beije ou toque a pessoa. O
  contato humano é de valia indispensável no processo de recuperação.
  Entretanto, respeite o paciente, caso ele não se sinta confortável em ser
  tocado seja por causa de juntas ou fraturas doloridas ou imunidade baixa.
  Como saber o que fazer? Pergunte e preste atenção aos sinais óbvios ou sutis
  que o paciente transmitir.

- Programe alguma coisa interessante para fazer com a pessoa, que não tenha
  a ver com doença. Sempre que for possível, procure distraí-lo com passatempos
  agradáveis. Exemplos: leitura em voz alta, música, jogos, passeios ao ar livre,
  cinema, museus... Quanto mais você aproveitar o bom da vida, maior é o
  incentivo para o paciente continuar vivendo.

- Dê sugestões, converse, tente convencer ou chegue até mesmo a discordar
  do paciente. Assim como uma criança precisa dos pais para manter a noção
  real das coisas,  às vezes o paciente precisa ter alguém que não só se preocupe
  com ele e o apoie, mas também que seja capaz de ajudá-lo a ouvir e atender a
  voz da razão.

- Trate o paciente como se você contasse com a sua sobrevida. Você não precisa
   acreditar que ele vai ficar bom; basta somente acreditar que pode ficar bom.
   Como muita gente acha que o câncer é fatal, essa postura às vezes se torna
   difícil para o paciente e a família. Entretanto, vem a servir sempre de
   oportunidade para o exercício da fé na vida de cada um.

-  No lidar com o paciente, demonstre ânimo e alegria de viver. Lembre-se que
   o medo e a desesperança são sempre contagiosos.

- Seja honesto, mas prudente. Diga o que tiver que ser dito, mas de maneira
  construtiva, otimista e confiante. Não esconda nada do paciente, nem fique
  falando baixo, sussurrando ou comentando coisas em segredo. Paciente
  nenhum é tolo. Não subestime a sua inteligência - ele percebe tudo.

- Considere o paciente como um ser humano único e maravilhoso, não número,   
  uma doença ou estatística. Encorage-o a acreditar no seu poder de influenciar
  a qualidade das suas próximas 24 horas. Às vezes, isso é o bastante.

- Explore e descubra as coisas que o paciente normalmente gosta de fazer.
  Mesmo que o tratamento da doença se torne o centro das atenções de todos,
  isso não quer dizer que o doente não tenha outros interesses também.

- Não tente ser mágico querendo advinhar o que o paciente precisa.
  Faça perguntas e ouça. Não se esqueça também das dificuldades que
  certos pacientes sentem de pedir ajuda. Para muitos deles é difícil ser
  dependente.

- Se estiver gripado ou com alguma infecção, evite contato direto com o paciente.
  Lembre-se que o seu sistema imunológico pode  estar enfraquecido devido aos
  tratamentos.

- Não tenha receio de chorar com o enfermo e sua família. Isso pode promover
  a troca de sentimentos profundos e idéias significantes.

- Sempre que possível, permita que o doente continue fazendo parte das
  decisões  a serem tomadas acerca do seu tratamento, assuntos familiares,
  etc.

-  Existem pacientes que preferem não se aprofundar no que está se passando
   com a sua doença. Deixe-o em paz. Assim como todo enfermo tem direito
   à informação, tem também o direito de não querer estar a par de tudo.
   Se entretanto ele quiser estar em comando de todas as decisões sobre o seu
   caso, isso é bom, os estudos e pesquisas dizem que é ótimo.  Ajude-o a
   mergulhar na busca de conhecimento e alternativas.

-  Novamente para dar ênfase, ajude o paciente a fazer as coisas por si mesmo,
   a ter atividades tais como dar telefonemas, ler, preparar  lista de coisas a fazer,
   marcar consultas e cuidar de assuntos pessoais.

-  Fique vigilante para que o enfermo continue se tratando pronta e
   completamente, não se esquecendo do prazo dos exames de acompanhamento,
   seguindo as prescrições médicas devidas, etc.

- Muito importante - mantenha um diário de todas as consultas e procedimentos
  médicos a fim de ter documentado tudo a seu respeito. Um dos benefícios
  desse exercício é ajudar a conferir os extratos das despesas médico-hospitalares
  acumuladas.

-  Esteja seguro que o médico do enfermo é qualificado para tratá-lo.    
   Inicialmente, encoraje a obtenção de uma segunda (ou terceira) opinião.
   O ideal é que o paciente goste do seu médico, que se sinta à vontade
   com ele e tenha confiança que o mesmo "joga  no seu time.

- Ainda sobre o médico, este deve ser competente, mas também sensível
  as necessidades e preferências do paciente. Não deixe de preparar uma lista
  com todas as perguntas e dúvidas antes da consulta marcada. Esteja certo de  
  que as respostas foram claras.

- Da mesma forma, ajuda muito quando o paciente entende os procedimentos
  de cada fase do seu tratamento, o que ele está fazendo, para que serve, etc.
  Estimule o paciente a ter confiança de fazer perguntas.

- Quando o paciente se sentir abatido por causa dos efeitos colaterais do
   tratamento, faça-o lembrar do que as drogas devem estar fazendo com as
   células malignas.

- Planeje com antecedência alguma atividade prazeirosa com a qual se
  ocupar durante o tempo de espera de um exame ou consulta.
  Exemplos: brincadeiras, jogos, leitura, atualização de correspondência,
  planejamento de passeios, retorno de telefonemas, relaxamento e
  meditação através de fitas  e livros, etc.

- Igualmente importante: esteja atento para que o paciente tome bastante,
  bastante líquido e se alimente bem para manter seu peso e energia.

- Tenha sempre ao seu dispor e faça uso de diversos: "Desculpe-me... Perdão...
   Por favor.... Obrigado... Agradeço muito... Você é importante para mim...
   Que Deus nos proteja..."

- Influencie o paciente a passar pelo menos 20 minutos por dia na
  prática de exercícios respiratórios ou alguma técnica de relaxamento,
  meditação, oração ou reflexão. Lembre-se que tudo na vida começa por
  um pensamento.

- Incentive o enfermo a participar de algum grupo de apoio. Ele poderá
   sentir-se deslocado no princípio, mas ao longo prazo, os benefícios
   serão óbvios. Se não existir um grupo de auto-ajuda na sua área, organize
  um!

- Encorage a prática de exercícios físicos regulares, de acordo com a capacidade
  do doente. Lembre-se entretanto, que certos exercícios podem ser feitos até
  mesmo deitado ou sentado.

- Diga e repita para o paciente que você está rezando por ele. Encorage-o
  a orar para si mesmo também. A oração tem o poder de aprimorar a
  qualidade de nossas vidas.

- Não assuma nunca que o paciente vai morrer. Por incrível que pareça, muitos
   sobrevivem anos ou até se curam.

- Apoie sempre o paciente na luta pela vida. Entretanto, se chegar um ponto em
  que ele  não queira (ou não tenha como) tentar mais nada, continue servindo de
  âncora firme e forte nos altos e baixos.
  
- Dizer para um paciente "não ficar deprimido" é dizer para a chuva parar de
  chover. Insistir que a pessoa não fique "prá baixo" é uma forma de reforçar
  mais ainda o seu estado depressivo. Mude de tática - com paciência,
  sensibilidade e prudência, procure encontrar alguma coisa que prenda a sua
  atenção e absorva o seu interesse.

- Contribua para que o paciente se sinta importante, confiante que a sua vida faz
  diferença. Dê ênfase às coisas que ele pode fazer sozinho. Ofereça razões e
  meios para o exercício da sua auto-determinação e respeito.

- Encontre maneiras de fazer o paciente rir. Veja filmes de comédia juntos,
  compartilhe o recorte de um cartoon, uma estória engraçada...

- Para quem está cuidando do paciente, não se esqueça de si mesmo. Procure
   renovar as energias.

Texto: Maria da Luz McAdams



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