DICAS PARA QUEM CONVIVE COM UM PACIENTE DE CÂNCER
(Adaptação do livro "Guide for Cancer Supporters" - Annette and Richard Bloch)
- Não tenha receio de usar a palavra câncer. O nome da doença é esse.
- Esteja sempre presente e disponível. Parta do princípio que você está com
o paciente para ajudá-lo e apoiá-lo, não para ter pena dele.
- Seja um excelente ouvinte. Nas horas difíceis, respire fundo 3 vezes
para manter a calma.
- Se o paciente comentar que ele está sendo um fardo para você, assegure-lhe
que a sua ajuda é uma escolha de livre arbítrio.
- Trate o paciente como se ele fosse viver. Entretanto, não faça prognósticos
afirmando: "Eu sei que você vai ficar bom." É impossível saber isso. Além do
mais, o paciente "sente" o que está acontecendo. Prefira dizer algo tal como:
"A situação é séria, mas você está fazendo todo o possível para enfrentar os
desafios."
- Seja paciente ao dar informações. Nas hora do sufoco, nem sempre a
pessoa consegue prestar atenção direito ao que está sendo dito e absorver
todos os detalhes.
- Não insinue que o enfermo seja uma fortaleza ou se porte como se tudo
estivesse bem. Admita que sua situação deve ser realmente difícil, cansativa,
entediante e amedrontadora.
- Permita que a pessoa se desabafe, dando expressão às suas frustrações e raiva.
Isso ajuda a alivar o estresse.
- Não se canse de demonstrar atenção, carinho e preocupação, verbalmente
ou através de pequenos atos de bondade. Escreva uma carta, por exemplo,
um bilhete ou uma mensagem inspiradora e dê para o paciente. Compartilhe
com ele uma oração, um cartão bonito, um livro, uma flor ou qualquer outra
coisa que sirva de meios tangíveis de expressar o bem-querer.
- Demonstre os seus sentimentos com o resto da família, inclusive os filhos.
Permita que eles participem e ajudem no cuidar do paciente. Incentive o
diálogo aberto e contínuo entre as pessoas envolvidas com o enfermo.
- Encorage o paciente a manter-se ativo física e mentalmente.
- Não se faça de engraçado o tempo todo; entretanto, não tenha receio de
sorrir, de ver o lado cômico das coisas. Em certas horas, o humor pode
aliviar o estresse.
- Encontre maneiras de fazer o paciente a se descontrair. Veja filmes de
comédia juntos, compartilhe o recorte de uma piada ou uma estória
animadora.
- Não fique contando e recontando as experiências horrorosas que outros
pacientes tiveram ou estão tendo.
- Fale sobre os acontecimentos especiais do passado, relembrando seu momentos
mais felizes ou engraçados. Observe como e por que essas recordações se
tornaram significativas para o enfermo. Decore o seu quarto com fotos de
quando era ainda bebê, criança ou adolescente.
- Jamais menospreze o valor de uma atitude positiva na luta contra a
enfermidade.
- Lembre-se que a higiene pessoal do paciente é de super importância. Atente
para o seu asseio e boa aparência. Ajude-o a manter sempre as mãos bem
limpas e o hálito fresco. Recomende o uso de um chapéu para proteger-se do
sol ou algum accessório ou maquiagem para melhorar o seu visual. Esses tipos
de detalhes geralmente promovem a auto-estima.
- Tenha muito cuidado com terapias alternativas ao tratamento convencional
da doença. Procure ler a respeito, conversar diretamente com outros pacientes
que tenham usado tais métodos. Permita que o paciente consulte a sua intuição
antes de tomar quaisquer decisões.
- Não desencorage o doente de se ocupar, procurando perservar o máximo
da sua rotina. Evite ser "bonzinho" demais, agindo como se o enfermo
fosse uma criancinha. (Claro que isso não se aplica, se for o caso.) De
qualquer forma, não cometa atos análogos a dar bala para uma criança
obesa e diabética. Isso pode ser o que ele quer, mas ao longo prazo é um
contra-senso fazer as suas vontades.
- Estimule o paciente a cuidar de si mesmo. Às vezes, o próprio doente deseja
manter a sua independência, mas os parentes insistem em atrapalhar, dizendo:
"Você está doente, não deve se esforçar, tentando fazer isso ou aquilo."
O paciente terá mais confiança, se incentivado a manter-se ativo. Para ele,
soa muito melhor ouvir: "Ótimo, fulano, que você continua se esforçando para
preservar a sua independência e amor-próprio."
- Faça comentários encorajadores sobre o progresso do paciente. Observe sinais
de melhora e demonstre satisfação e orgulho. Todo paciente gosta de ouvir que
é amado e aceito, não obstante as mudanças no seu aspecto físico.
- Atenção - o câncer não é contagioso. Abrace, beije ou toque a pessoa. O
contato humano é de valia indispensável no processo de recuperação.
Entretanto, respeite o paciente, caso ele não se sinta confortável em ser
tocado seja por causa de juntas ou fraturas doloridas ou imunidade baixa.
Como saber o que fazer? Pergunte e preste atenção aos sinais óbvios ou sutis
que o paciente transmitir.
- Programe alguma coisa interessante para fazer com a pessoa, que não tenha
a ver com doença. Sempre que for possível, procure distraí-lo com passatempos
agradáveis. Exemplos: leitura em voz alta, música, jogos, passeios ao ar livre,
cinema, museus... Quanto mais você aproveitar o bom da vida, maior é o
incentivo para o paciente continuar vivendo.
- Dê sugestões, converse, tente convencer ou chegue até mesmo a discordar
do paciente. Assim como uma criança precisa dos pais para manter a noção
real das coisas, às vezes o paciente precisa ter alguém que não só se preocupe
com ele e o apoie, mas também que seja capaz de ajudá-lo a ouvir e atender a
voz da razão.
- Trate o paciente como se você contasse com a sua sobrevida. Você não precisa
acreditar que ele vai ficar bom; basta somente acreditar que pode ficar bom.
Como muita gente acha que o câncer é fatal, essa postura às vezes se torna
difícil para o paciente e a família. Entretanto, vem a servir sempre de
oportunidade para o exercício da fé na vida de cada um.
- No lidar com o paciente, demonstre ânimo e alegria de viver. Lembre-se que
o medo e a desesperança são sempre contagiosos.
- Seja honesto, mas prudente. Diga o que tiver que ser dito, mas de maneira
construtiva, otimista e confiante. Não esconda nada do paciente, nem fique
falando baixo, sussurrando ou comentando coisas em segredo. Paciente
nenhum é tolo. Não subestime a sua inteligência - ele percebe tudo.
- Considere o paciente como um ser humano único e maravilhoso, não número,
uma doença ou estatística. Encorage-o a acreditar no seu poder de influenciar
a qualidade das suas próximas 24 horas. Às vezes, isso é o bastante.
- Explore e descubra as coisas que o paciente normalmente gosta de fazer.
Mesmo que o tratamento da doença se torne o centro das atenções de todos,
isso não quer dizer que o doente não tenha outros interesses também.
- Não tente ser mágico querendo advinhar o que o paciente precisa.
Faça perguntas e ouça. Não se esqueça também das dificuldades que
certos pacientes sentem de pedir ajuda. Para muitos deles é difícil ser
dependente.
- Se estiver gripado ou com alguma infecção, evite contato direto com o paciente.
Lembre-se que o seu sistema imunológico pode estar enfraquecido devido aos
tratamentos.
- Não tenha receio de chorar com o enfermo e sua família. Isso pode promover
a troca de sentimentos profundos e idéias significantes.
- Sempre que possível, permita que o doente continue fazendo parte das
decisões a serem tomadas acerca do seu tratamento, assuntos familiares,
etc.
- Existem pacientes que preferem não se aprofundar no que está se passando
com a sua doença. Deixe-o em paz. Assim como todo enfermo tem direito
à informação, tem também o direito de não querer estar a par de tudo.
Se entretanto ele quiser estar em comando de todas as decisões sobre o seu
caso, isso é bom, os estudos e pesquisas dizem que é ótimo. Ajude-o a
mergulhar na busca de conhecimento e alternativas.
- Novamente para dar ênfase, ajude o paciente a fazer as coisas por si mesmo,
a ter atividades tais como dar telefonemas, ler, preparar lista de coisas a fazer,
marcar consultas e cuidar de assuntos pessoais.
- Fique vigilante para que o enfermo continue se tratando pronta e
completamente, não se esquecendo do prazo dos exames de acompanhamento,
seguindo as prescrições médicas devidas, etc.
- Muito importante - mantenha um diário de todas as consultas e procedimentos
médicos a fim de ter documentado tudo a seu respeito. Um dos benefícios
desse exercício é ajudar a conferir os extratos das despesas médico-hospitalares
acumuladas.
- Esteja seguro que o médico do enfermo é qualificado para tratá-lo.
Inicialmente, encoraje a obtenção de uma segunda (ou terceira) opinião.
O ideal é que o paciente goste do seu médico, que se sinta à vontade
com ele e tenha confiança que o mesmo "joga no seu time.
- Ainda sobre o médico, este deve ser competente, mas também sensível
as necessidades e preferências do paciente. Não deixe de preparar uma lista
com todas as perguntas e dúvidas antes da consulta marcada. Esteja certo de
que as respostas foram claras.
- Da mesma forma, ajuda muito quando o paciente entende os procedimentos
de cada fase do seu tratamento, o que ele está fazendo, para que serve, etc.
Estimule o paciente a ter confiança de fazer perguntas.
- Quando o paciente se sentir abatido por causa dos efeitos colaterais do
tratamento, faça-o lembrar do que as drogas devem estar fazendo com as
células malignas.
- Planeje com antecedência alguma atividade prazeirosa com a qual se
ocupar durante o tempo de espera de um exame ou consulta.
Exemplos: brincadeiras, jogos, leitura, atualização de correspondência,
planejamento de passeios, retorno de telefonemas, relaxamento e
meditação através de fitas e livros, etc.
- Igualmente importante: esteja atento para que o paciente tome bastante,
bastante líquido e se alimente bem para manter seu peso e energia.
- Tenha sempre ao seu dispor e faça uso de diversos: "Desculpe-me... Perdão...
Por favor.... Obrigado... Agradeço muito... Você é importante para mim...
Que Deus nos proteja..."
- Influencie o paciente a passar pelo menos 20 minutos por dia na
prática de exercícios respiratórios ou alguma técnica de relaxamento,
meditação, oração ou reflexão. Lembre-se que tudo na vida começa por
um pensamento.
- Incentive o enfermo a participar de algum grupo de apoio. Ele poderá
sentir-se deslocado no princípio, mas ao longo prazo, os benefícios
serão óbvios. Se não existir um grupo de auto-ajuda na sua área, organize
um!
- Encorage a prática de exercícios físicos regulares, de acordo com a capacidade
do doente. Lembre-se entretanto, que certos exercícios podem ser feitos até
mesmo deitado ou sentado.
- Diga e repita para o paciente que você está rezando por ele. Encorage-o
a orar para si mesmo também. A oração tem o poder de aprimorar a
qualidade de nossas vidas.
- Não assuma nunca que o paciente vai morrer. Por incrível que pareça, muitos
sobrevivem anos ou até se curam.
- Apoie sempre o paciente na luta pela vida. Entretanto, se chegar um ponto em
que ele não queira (ou não tenha como) tentar mais nada, continue servindo de
âncora firme e forte nos altos e baixos.
- Dizer para um paciente "não ficar deprimido" é dizer para a chuva parar de
chover. Insistir que a pessoa não fique "prá baixo" é uma forma de reforçar
mais ainda o seu estado depressivo. Mude de tática - com paciência,
sensibilidade e prudência, procure encontrar alguma coisa que prenda a sua
atenção e absorva o seu interesse.
- Contribua para que o paciente se sinta importante, confiante que a sua vida faz
diferença. Dê ênfase às coisas que ele pode fazer sozinho. Ofereça razões e
meios para o exercício da sua auto-determinação e respeito.
- Encontre maneiras de fazer o paciente rir. Veja filmes de comédia juntos,
compartilhe o recorte de um cartoon, uma estória engraçada...
- Para quem está cuidando do paciente, não se esqueça de si mesmo. Procure
renovar as energias.
Texto: Maria da Luz McAdams
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