O poder do reconhecimento é uma das forças mais poderosas para estimular a iniciativa humana e social.
Sim, o
reconhecimento é um poderoso motivador
para aqueles que o recebem, bem como para
aqueles que o observam.
– Lowell Milken
Quando meu filho tinha 11 anos, a professora de inglês pediu a ele e aos
demais alunos que escrevessem uma receita para a felicidade.
A idéia que meu filho teve foi de escrever uma receita para um bolo de
aniversário com ingredientes de felicidade para 20 convidados.
Resolvi dar uma espiada no que ele havia escrito e notei que dentre os
vários ingredientes “felizes” ele escreveu: “ um grão de sucesso”.
Fiquei pensando o porquê dele escrever apenas um grão,
quando sucesso é algo que geralmente desejamos em abundância e lhe pedi que me
explicasse.
Ele então, me disse: “Isto é muito “powerful (poderoso) e por isso não
precisa de muito para fazer alguém feliz”.
Fiquei pensando em todas as ocasiões em que uma só palavra, uma só
mensagem, um só desenho, um só cartão ou um sorriso apenas, mudou completamente
o meu dia e até a minha vida, então, no embalo do post anterior sobre
competição positiva e seguindo a linha acima (quem ainda não acessou o post,
sugiro que o acesse e assista o vídeo, antes de continuar), gostaria de escrever
sobre prêmio/recompensa e reconhecimento na escola.
Por
que é importante reconhecer, recompensar e motivar o aluno?
Quando o aluno não recebe nada, a não ser “feedbacks” negativos, na
maioria das vezes isto fará com que ele se sinta derrotado/incapaz e muitos até
perderão a vontade de se esforçar em sala de aula, pois sabem que seus esforços
encontrarão apenas criticismo. Contudo, quando o aluno recebe um “feedback”
positivo e é reconhecido ou recompensado pelo trabalho bem feito ou pelo bom
comportamento é natural que continue a se esforçar para dar o seu melhor.
Aqui na Austrália, em muitos colégios, costuma-se reconhecer os esforços,
o bom trabalho e as boas atitudes do aluno, através de notas positivas ou certificados
(acadêmicos ou de caráter). Em casos excepcionais, se ganha também uma
recompensa/prêmio. No colégio do meu filho, por exemplo, os 3 alunos que mais leram
livros dentre todos os outros estudantes do colégio, ao longo do ano letivo, foram
premiados com um vale-presente para a compra de um livro. Desta forma o colégio
não só recompensou estes alunos, como também mostrou a seus colegas um bom
exemplo a ser seguido, além de ter deixado bem claro que ler é importante.
Também são distribuídas notas positivas (para o primário) que servem
para: incentivar e indicar um comportamento desejado, incentivar a
pontualidade, melhorar o índice de maestria ou a aprendizagem da matéria,
reforçar e construir o trabalho em equipe, além de reconhecer uma realização
especial ou até mesmo o desempenho acadêmico.
Quem quiser se aprofundar mais, clique aqui (em inglês).
O que exatamente se reconhece em termos de caráter?
Respeito aos demais, honestidade, responsabilidade, cooperação, esforço,
iniciativa, participação, solução de problemas, paciência, tolerância, amizade,
trabalho em equipe, confiabilidade, solidariedade , justiça (criança que
tenta ser justa com os demais) , perseverança, generosidade, consideração,
prestatividade, empatia, cidadania, hospitalidade, auto-controle,
compaixão, organização, coragem, frugalidade, etc...
No colégio público onde meu filho cursou o 2º ano, eles
distribuíam certificados de honestidade. Meu filho (com 7 anos) encontrou uma
moeda no pátio da escola e a entregou na secretaria. Na reunião escolar (aqui
eles reúnem todos os alunos do colégio uma vez por semana) o diretor do colégio
entregou a meu filho um certificado de honestidade na frente dos pais que se
encontravam presente e de todos os alunos do colégio.
Notas positivas e certificados acadêmicos :
Além das matérias do currículo em si, onde os melhores alunos recebem
certificados de mérito no fim do ano (ex.: literatura), também se pode criar
subdivisões, tais como: melhor autor, fantástico escritor, melhor
caligrafia, melhor estória criativa, super leitor (que lê mais livros), leitor
veloz, melhor poeta, etc…
Meu filho, por exemplo, recebeu uma nota positiva na 4ª. série
fundamental, onde a professora escreveu “ um maravilhoso matemático”. Não
preciso dizer como ele se sentiu. Era sorriso de lado a lado. Vou citar mais
alguns pra vocês terem uma idéia: “seu fantástico trabalho sobre adaptações dos
animais”, “valente e corajoso no acampamento”, “excelente e criativa
interpretação de um inspirado palhaço expressionista”, “grande progresso no
jogo de tênis”, “trabalhando duro o tempo todo”.
Certamente alguém dirá, mas o dever do aluno não é estudar e se
comportar? então por que criar estes incentivos?
Acontece que o ser humano não é um robô e da mesma forma que uma palavra
amiga ou um sorriso na hora certa faz um bem danado, estes pequenos lembretes também
têm o poder mágico de motivar a criança. Eu pude ver muitos sorrisos no rosto
dos meus filhos e é claro, no meu também. Afinal, filhos felizes, pais
felizes. Além disso, como é uma nota escrita, pode ser guardada e isto
fica registrado para a criança e sua família para o resto da vida.
Agora vem a pergunta crítica. Se condicionarmos o aluno a sempre
receber algo positivo, então o que acontecerá quando ele for trabalhar?.
Primeiro, que não se trata de condicionamento, e sim, de reconhecimento.
Segundo, isto não é algo que acontece diariamente. Meu filho, por exemplo, em uma
determinada série, recebeu apenas um, enquanto que em outras, 2 ou 3.
Terceiro, você que dá duro no trabalho, não gostaria de receber um
feedback positivo de seu chefe, de seu colega de trabalho ou da sua
equipe? Por que não?
O reconhecimento pode vir de diversas formas e não somente pelo trabalho
profissional. Até mesmo por algo que a pessoa tenha feito fora do trabalho.
E aqui entra a competição positiva do post anterior. Você incentiva a
sociedade a tomar atitudes que venham a dar o exemplo; que tornem a sociedade competitiva
de uma forma que a beneficie.
Há algum tempo atrás circulou uma foto, nas redes sociais, de um
policial que havia comprado um par de botas para um sem-teto que estava
descalço, no frio, nos EUA. Alguém viu a cena, tirou a foto e a colocou
nas redes. O policial, além de ter sido aplaudido por seus colegas e pelos
internautas, também foi promovido ao
cargo de detetive e muitos lhe disseram que sua atitude os havia inspirado a
fazer o mesmo. Leia aqui a reportagem (em inglês) ou veja as
fotos para se lembrar.
Um outro exemplo que acontece por aqui é quando o dono de uma empresa resolve selecionar seus
empregados não só a nível profissional, mas também pelo que estes fizeram de
bom nos tempos da escola ou universidade (principalmente para os jovens que
terminam o ensino secundário ou curso universitário).
É comum fazerem perguntas sobre trabalhos voluntários e sobre funções de
liderança (mentores, instrutores, treinadores) até mesmo em formulários para
pedidos de bolsa de estudo.
É claro que o exemplo acima exige que os colégios e outras instituições
de ensino ofereçam estas oportunidades a seus alunos. E isto de fato
acontece por aqui. Quando minha filha terminou o primário (ela tinha apenas 11
anos), a coordenadora de matemática lhe perguntou se gostaria de ajudar no
clube de matemática, uma vez por semana, depois da aula. Ela concordou e durante
dois anos foi mentora nesse clube.
Três anos mais tarde, já no ensino secundário, surgiu uma oportunidade
para ganhar uma bolsa de estudos que permitia uma experiência na indústria
científica. No formulário também constavam perguntas sobre seus interesses, atividades
em que participava (dentro e fora do colégio), trabalhos comuntários prestados
e papéis de liderança. Ela então pôde escrever sobre seu papel no clube de
matemática.
Para os curiosos, sim, ela ganhou a bolsa.
Bem, no próximo post trarei mais exemplos de como oferecer oportunidades
de liderança nas escolas.
Um comentário:
Parabéns, Karen! Adorei saber sobre como funciona o ensino por aí! Serviria de exemplo para as escolas brasileiras! Um abraço! Anita Driemeier
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