segunda-feira, 17 de julho de 2017

Notas positivas, certificados acadêmicos e de caráter



O poder do reconhecimento é uma das forças mais poderosas para estimular a iniciativa humana e social. 
Sim, o reconhecimento é um poderoso motivador
para aqueles que o recebem, bem como para aqueles que o observam.
– Lowell Milken


Quando meu filho tinha 11 anos, a professora de inglês pediu a ele e aos demais alunos que escrevessem uma receita para a felicidade.
A idéia que meu filho teve foi de escrever uma receita para um bolo de aniversário com ingredientes de felicidade para 20 convidados.
Resolvi dar uma espiada no que ele havia escrito e notei que dentre os vários ingredientes “felizes” ele escreveu: “ um grão de sucesso”.
Fiquei pensando o porquê dele escrever apenas um grão, quando sucesso é algo que geralmente desejamos em abundância e lhe pedi que me explicasse.
Ele então, me disse: “Isto é muito “powerful (poderoso) e por isso não precisa de muito para fazer alguém feliz”.
Fiquei pensando em todas as ocasiões em que uma só palavra, uma só mensagem, um só desenho, um só cartão ou um sorriso apenas, mudou completamente o meu dia e até a minha vida, então, no embalo do post anterior sobre competição positiva e seguindo a linha acima (quem ainda não acessou o post, sugiro que o acesse e assista o vídeo, antes de continuar), gostaria de escrever sobre prêmio/recompensa e reconhecimento na escola.

Por que é importante reconhecer, recompensar e motivar o aluno?

Quando o aluno não recebe nada, a não ser “feedbacks” negativos, na maioria das vezes isto fará com que ele se sinta derrotado/incapaz e muitos até perderão a vontade de se esforçar em sala de aula, pois sabem que seus esforços encontrarão apenas criticismo. Contudo, quando o aluno recebe um “feedback” positivo e é reconhecido ou recompensado pelo trabalho bem feito ou pelo bom comportamento é natural que continue a se esforçar para dar o seu melhor.
Aqui na Austrália, em muitos colégios, costuma-se reconhecer os esforços, o bom trabalho e as boas atitudes do aluno, através de notas positivas ou certificados (acadêmicos ou de caráter). Em casos excepcionais, se ganha também uma recompensa/prêmio. No colégio do meu filho, por exemplo, os 3 alunos que mais leram livros dentre todos os outros estudantes do colégio, ao longo do ano letivo, foram premiados com um vale-presente para a compra de um livro. Desta forma o colégio não só recompensou estes alunos, como também mostrou a seus colegas um bom exemplo a ser seguido, além de ter deixado bem claro que ler é importante.
Também são distribuídas notas positivas (para o primário) que servem para: incentivar e indicar um comportamento desejado, incentivar a pontualidade, melhorar o índice de maestria ou a aprendizagem da matéria, reforçar e construir o trabalho em equipe, além de reconhecer uma realização especial ou até mesmo o desempenho acadêmico.
Quem quiser se aprofundar mais, clique aqui (em inglês).

O que exatamente se reconhece em termos de caráter?

Respeito aos demais, honestidade, responsabilidade, cooperação, esforço, iniciativa, participação, solução de problemas, paciência, tolerância, amizade, trabalho em equipe, confiabilidade,  solidariedade , justiça (criança que tenta ser justa com os demais) , perseverança, generosidade, consideração, prestatividade,  empatia, cidadania, hospitalidade,  auto-controle, compaixão, organização,  coragem, frugalidade, etc...
No colégio público onde meu filho cursou o 2º ano,  eles distribuíam certificados de honestidade. Meu filho (com 7 anos) encontrou uma moeda no pátio da escola e a entregou na secretaria. Na reunião escolar (aqui eles reúnem todos os alunos do colégio uma vez por semana) o diretor do colégio entregou a meu filho um certificado de honestidade na frente dos pais que se encontravam presente e de todos os alunos do colégio.

Notas positivas e certificados acadêmicos :

Além das matérias do currículo em si, onde os melhores alunos recebem certificados de mérito no fim do ano (ex.: literatura), também se pode criar subdivisões, tais como: melhor autor, fantástico escritor, melhor caligrafia, melhor estória criativa, super leitor (que lê mais livros), leitor veloz, melhor poeta, etc… 
Meu filho, por exemplo, recebeu uma nota positiva na 4ª. série fundamental, onde a professora escreveu “ um maravilhoso matemático”. Não preciso dizer como ele se sentiu. Era sorriso de lado a lado. Vou citar mais alguns pra vocês terem uma idéia: “seu fantástico trabalho sobre adaptações dos animais”, “valente e corajoso no acampamento”, “excelente e criativa interpretação de um inspirado palhaço expressionista”, “grande progresso no jogo de tênis”, “trabalhando duro o tempo todo”.

Certamente alguém dirá, mas o dever do aluno não é estudar e se comportar? então por que criar estes incentivos?
Acontece que o ser humano não é um robô e da mesma forma que uma palavra amiga ou um sorriso na hora certa faz um bem danado, estes pequenos lembretes também têm o poder mágico de motivar a criança. Eu pude ver muitos sorrisos no rosto dos meus filhos e é claro, no meu também. Afinal, filhos felizes, pais felizes. Além disso, como é uma nota escrita, pode ser guardada e isto fica registrado para a criança e sua família para o resto da vida.

Agora vem a pergunta crítica. Se condicionarmos o aluno a sempre receber algo positivo, então o que acontecerá quando ele for trabalhar?.
Primeiro, que não se trata de condicionamento, e sim, de reconhecimento. Segundo, isto não é algo que acontece diariamente. Meu filho, por exemplo, em uma determinada série, recebeu apenas um, enquanto que em outras, 2 ou 3.
Terceiro, você que dá duro no trabalho, não gostaria de receber um feedback positivo de seu chefe, de seu colega de trabalho ou da sua equipe?  Por que não? 
O reconhecimento pode vir de diversas formas e não somente pelo trabalho profissional. Até mesmo por algo que a pessoa tenha feito fora do trabalho.
E aqui entra a competição positiva do post anterior. Você incentiva a sociedade a tomar atitudes que venham a dar o exemplo; que tornem a sociedade competitiva de uma forma que a beneficie.

Há algum tempo atrás circulou uma foto, nas redes sociais, de um policial que havia comprado um par de botas para um sem-teto que estava descalço, no frio, nos EUA. Alguém viu a cena, tirou a foto e a colocou nas redes. O policial, além de ter sido aplaudido por seus colegas e pelos internautas,  também foi promovido ao cargo de detetive e muitos lhe disseram que sua atitude os havia inspirado a fazer o mesmo. Leia aqui a reportagem (em inglês) ou veja as fotos para se lembrar.

Um outro exemplo que acontece por aqui é quando o dono de uma empresa resolve selecionar seus empregados não só a nível profissional, mas também pelo que estes fizeram de bom nos tempos da escola ou universidade (principalmente para os jovens que terminam o ensino secundário ou curso universitário).
É comum fazerem perguntas sobre trabalhos voluntários e sobre funções de liderança (mentores, instrutores, treinadores) até mesmo em formulários para pedidos de bolsa de estudo.

É claro que o exemplo acima exige que os colégios e outras instituições de ensino ofereçam estas oportunidades a seus alunos. E isto de fato acontece por aqui. Quando minha filha terminou o primário (ela tinha apenas 11 anos), a coordenadora de matemática lhe perguntou se gostaria de ajudar no clube de matemática, uma vez por semana, depois da aula. Ela concordou e durante dois anos foi mentora nesse clube.   
Três anos mais tarde, já no ensino secundário, surgiu uma oportunidade para ganhar uma bolsa de estudos que permitia uma experiência na indústria científica. No formulário também constavam perguntas sobre seus interesses, atividades em que participava (dentro e fora do colégio), trabalhos comuntários prestados e papéis de liderança. Ela então pôde escrever sobre seu papel no clube de matemática.
Para os curiosos, sim, ela ganhou a bolsa.

Bem, no próximo post trarei mais exemplos de como oferecer oportunidades de liderança nas escolas.



Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns, Karen! Adorei saber sobre como funciona o ensino por aí! Serviria de exemplo para as escolas brasileiras! Um abraço! Anita Driemeier